Thursday, February 08, 2007

Neblina

Em meio à neblina, busco um ponto de luz. Mas só enxergo a fumaça que aspirei após tragar mais um pouco de minha vida desse cigarro. Palavras suas, eu lembrei. Todas as discussões. Dor de cabeça. Lembro de cada segundo, cada minuto, de cada hora de cada dia em que por ti, esperei. Lembro de cada abraço que não ganhei. De cada sorriso que não mostrei e guardei. Agora deposito tudo em cada nota. Nesse meu infinito particular. Pois ainda não respirei. Lembro de ti como uma brisa que tocava meu rosto e se esvaia, lembro-me dos momentos em que sentia tua presença ao meu lado, tua doce voz na minha cabeça. Tudo isso se foi, como aquela doce tarde, em que o sol apagou-se brandamente e levou consigo toda aquela interminável tarde, que talvez me trouxe anos de alegrias.Fostes sem me deixar,saísses abruptamente sem me abraçar. Isso fez falta, isso deixou sangrar, sem curativos ou remendos a ferida continua a jorrar, litros de sangue, lagrimas salgadas, pensamentos confusos, naquela tarde jamais sanada.

Guardei-te junto com os sorrisos. Puxo sempre seu rosto do meu bolso. Retiro o cabelo de seu rosto, pra poder enxergar por completo seus olhos. Lá estão como estrelas que brilham como água cristalina, transparece. Janelas da alma. Aquela expressão ali guardada. Pra todo o sempre. A suposta felicidade. O que ficou aqui guardado por toda eternidade. Eternidade que se tornou passageira, do sentimento que a movia, eternidade que se tornou uma asneira, depois que disseste com se sentia.

A fumaça se dissipa no ar, se funde se espalha. Ela se torna parte dele. Do todo, do vento. O mesmo que faz seu cabelo esvoaçar, que derruba as folhas, que traz ciscos para atrapalhar o seu olhar. Dizem que a alma se funde ao vento. Dizem que o sentir se torna o relento. Dizem que tudo vai ao infinito com o pensamento. Logo após destino algum “pensar”. Mas que tudo sempre vai ser válido, de aprender, eu hei de me lembrar, como fui tolo ao tentar transpassar, o que jamais poderia esquecer, mesmo quando viesse a hesitar, sobre vivê-lo novamente, sobre senti-lo ardentemente, aquele maldito e sublime sentimento transparente.

Escorrendo como um rio ao encontro do seu delta, tentando voar como um pássaro engaiolado, recém libertado, sentindo o ar penetrando em suas asas num vôo rasante na mais nova caçada, em busca do que perdeu em busca do que sou “eu”. Sem complementos agora tenho que juntar todas as peças, pra formar o novo “eu”, tentar buscar o que se perdeu.

Sinto o sereno me abraçar, respiro fundo esse ar. Trago mais um pouco de mim. O caminho ainda é nebuloso, e eu insisto em aspirar, insisto em tragar pra dentro de mim. Insisto em guardar aqui, aquele cheiro que ali permaneceu. Sim, aquele seu, eu me lembro. Me transporto para aquele momento. Agora sei. Tenho que ir e deixar tudo aqui, já finado se tornou lembrança. Boa até. Mesmo após a tormenta. Aqui. Daqui nunca há de sair.


Por Cadu Tenório e Breno Araújo