Tuesday, July 31, 2007

Doces sonhos.

Possibilidades quebradas, carros, roubados, nada, restos, trabalho, nada, possibilidades roubadas. Berros e mais berros não mudarão nada, não mudaram nunca, mas ao menos saem de você e não ricocheteiam infinitamente por dentro dessa carcaça escassa que chora, que geme, que se mostra indignada, um direito básico, desabafo. Morte, violência, vingança, asfalto manchado de vermelho-sangue, são o que perpetua uma mente cansada e revoltada em prantos. Erguendo-se no nada, se pensa como será o amanhã, já que o presente de um milhão de possibilidades foi roubado de suas delicadas mãos surradas de trabalho que teoricamente não mereciam isso, repreendendo toda esperança, sorrisos e felicidade que se encontravam refletidos em um semblante leve. Culpa-se por pensamentos violentos a respeito de quem tiver realizado o ato, teorias de conspiração mirabolantes são levantadas, o ódio faz seu caminho na mente. "Ora façam-me o favor, pelo menos em minha mente, em meus pensamentos posso me vingar". Extravase, e deixe tudo descer pelos ralos berrantes de sua boca. O choro em prantos pro céu e os berros de raiva desferidos pra Deus pedindo com urgência os porquês de tudo isso acontecer consigo cai sobre a terra cheia de sementes pra que quem sabe germine em algo bom. Um tempo depois deixe que tudo isso seja substituído pela velha clemência "ah, a pessoa que pegou deve precisar muito mais do que eu, eu vou dar a volta por cima", engole a seco, não esquece, mas tenta e lembra. Sinto medo dos meus pensamentos ruins e dos meus momentos de raiva, não quero ter raiva, tento abafar, digo pra mim mesmo que sou humano, me esforço pra acreditar. Sinto medo de mim mesmo, da minha sombra que parece escurecer a cada dia, da minha percepção que parece cada dia mudar, para algo mais cruel, mais vil, com menos compaixão. Doces sonhos são feitos assim, doces sonhos se perdem assim, em meio à sangue, em meio à desgraça trazida lá de trás e que foi lentamente se disseminando por esse futuro, que parece negro, sem esperanças, sem cor. Dor, desespero, desafeto, todos de preto, um velório, muita chuva, lá se foi mais um a se perder enterrado, esquecido, jogado. Muito choro e vela, poucas ações, mais um se perdeu em seus “doces sonhos”. Todos precisam de algo, todos precisam de alguma coisa pra culpar, de alguém pra odiar, de alguém pra se apoiar. Um dia simplesmente você acorda sem chão, sua pele se corroendo, seu corpo remoendo dores, mixando todos seus medos, todas suas raivas, você levanta pega uma arma e resolve checar como deve ser, sai atirando, o sangue escorre pelo chão, respinga na sua camisa branca, pronto, está feito. Então você acorda, acorda de um sonho macabro, onde você e o assassino, você é o bandido, você não trabalha, em seus sonhos vai se moldando toda sua raiva, toda sua repulsa por tudo que lhe rodeia, figurões, ladrões, no final você acaba numa linha tênue entre seus sonhos e sua realidade, onde você controla e guarda em um pequeno recipiente todo seu rancor por tudo isso.

Por Cadu e Breno