Sunday, September 02, 2007

Vortex

Pertinente, quase que vive comigo, aquele zumbido no ouvido, uma e outra vez, se repete, e se repete, como uma gota caindo em um balde vazio, ressonando alto impedindo meu sono. As vezes por isso desejo ser uma barata, mas logo logo mudo de ideia porque parece assustador ter apenas três segundos de memória, renascer e mudar de objetivo a cada três segundos, mas assim eu poderia esquecer de muita coisa, ter diversas e diversas chances de 3 segundos onde eu conseguindo ou não, não iria importar. Mas mudo de ideia porque não existiria nada pra guardar, seria um vacuo, você não existiria nem pra me excitar durante os momentos em que tento me sentir menos só com minhas mãos.

Então, por quê? O que é? Escorrega entre meus dedos quase que sem eu ver. Perco um por do sol, perco uma lua cheia, perco pequenos momentos. O álcool vai se tornando medicamento prescrito para anestesiar o viver, o lutar, o se esforçar... Enfim, a vida no meio desse capitalismo. A vida é bela, um ótimo filme, inspirador, ver que o mundo pode ser moldado na cabeça de alguém menos experiente, ver que aqueles sorrisos são os mais sinceros, ainda está virgem, virgem de tristeza, virgem de morte, virgem de decepção, ainda não teve rachaduras no coração nem quebrou o nariz, o sangue ainda não escorreu, os anticorpos e as defesas ainda não são consistentes, a gripe ainda pode deixá-lo faltar aula. Pena que esses tempos em que eu ganhava dinheiro fácil, passaram. A realidade é quem vigora e pesa agora. Pensa como nunca, como pesos, e dólares, e os mimos que me deram me deixam estagnado, minha consciência funciona, mas não age, meu corpo tem preguiça, preciso agir, preciso agir, o tempo está passando, o mendigo me assusta, tenho pena dele, não sei da sua vida, e tenho medo de perguntar, odeio admitir. Quero crescer ou não? Já nem sei, sei que devo, só não sei querer ainda, mas quero querer, o querer querer é presente em minha vida, ele pode ser simplificado como qualquer outra fração, eu quero, preciso agir, o medo não me deixa nem lhe dar "Oi", o medo das escolhas que não se separam do denominador: renuncia.

Somente na retaguarda, fico observando os outros. Explosões brilhantes, lagrimas conflitantes, e se? E se? Se tivesse menos, buscaria por mais. Talvez se tivesse mais ficaria satisfeito. São só suposições estúpidas que faço pra passar o tempo ou mais provavelmente pra resguardar de tomar qualquer decisão, para me abster de qualquer voto.

Se amou ou deixo-se amar, não foi importante até então ou pelo menos nada influenciou no movimento em que a brisa levava meus pensamentos ou o vento forte e turbulento me trazia pensamentos ruins, escabrosos, tediantes, pensamentos esses os quais eu usava e uso - pretendo largar esse vício - pra me manter parado, problemas psicológicos, mulheres e etc... São ótimas armas e bodes expiatórios pra não olhar pra frente, pra não levar os tapas precisos, pra não criar cicatrizes novas, não crescer/fortalecer. Medo de mim mesmo, das possibilidades, receio ouvir respostas negativas, tudo isso é clichê demais para ser usado como justificativa, mas lhe pergunto: O que seria mais comum para te atormentar que um simples clichê?

Por Breno Araújo e Cadu Tenório

Thursday, August 16, 2007

Repete Chão (E agora quem poderá me defender?)

E parece que está tudo quieto, mas na verdade não, como o ceratocone, esse barulho de vida nunca vai parar, só quando o nunca, de fato, se concretizar, findar o som e o ar, e mesmo assim nunca se saberá, nunca. Vivo a reclamar de nada, porque nem tenho do que reclamar, só faço mesmo pra adiar o movimento, adio tudo, tenho medo porque não se pode voltar, fico no meio do rio sem escolher lado nenhum esperando a correnteza me levar pra onde cai a cachoeira, mas o problema é que me encontro em uma banheira, me escondendo do mundo, digitando, escrevendo desenhando e tentando transformar insatisfação em qualquer espécie de manifestação artística do acaso. Manifestações que capturem meu momento, meu fantasma, e muitas vezes meus tormentos, por que às vezes isso me afaga, isso massageia meu ego ou impede que eu me entristeça mais quando as coisas que planejo ou que simplesmente “deixo rolar”, não acontecem com a pontualidade esperada. Enquanto isso ouço somente o som do teclado, digitando meus anseios, minha lágrimas, minhas perdas, meu medos comuns e incomuns, minhas particularidades sobre esse ou aquele assunto, e as vezes um personagem que tento criar pra me sentir mais humano.

Eu me pergunto então onde estará ela agora, dormindo? Deitada? Se masturbando assistindo alguma pornografia animada japonesa? Sei lá, talvez ela esteja fazendo tudo isso ao mesmo tempo, alojada dentro da minha cabeça como uma neuro-cesticercose, me matando aos poucos, na verdade não de forma “morrida” mesmo, mas de uma forma que apaga a alma com crueldade, rasga-la como se fosse papel descartado. Eu romantizo tudo demais, andei vendo um filme em que a protagonista se assemelhava bastante a mim, com todas as perguntas sem respostas, falando e falando pra si própria escutar, porém distraída, divagando, questionando, pergunto, se é? Por que é? Pra que é? Por isso aconteceu? Justiça? Vida? Faço milhares dessas indagações esperando que o tempo passe, a erosão dê seu recado ao mundo, que as ondas batam e moldem tudo, que o sol e o frio façam seu papel, que a água fique mais escassa, mas também passe a se encontrar sempre na altura de meus joelhos. Fico esperando você me ligar, o que nunca aconteceria, até porque você não tem meu telefone, mas eu espero porque eu quero acreditar em super-heróis, eu preciso, preciso me sentir menos só. Eu preciso crer numa batcaverna para esconder meus medos, eu preciso crer num céu imenso e eu flutuando sobre ele, exalando dor e carregando fardos alheios. Eu preciso de algum poder especial para sobreviver a tudo isso? Ou eu preciso simplesmente eliminar minha existência em pro dos outros? Assim fazem os super-heróis não? Eu sei que tenho a mim e a Deus que me criou a sua imagem e semelhança, espero muito que ele tenha muita coragem e que me ajude a desabrochar isso, espero muito que eu encontre mais forças pra crer nele, espero também ter clareza das coisas, espero que tudo isso se combine, que não seja uma salada confusa maior do que a que eu vivo, se é que já não o seja. Não consigo ao menos pensar na possibilidade “big bang de criação”, “macaco-evolução”, é tudo muito superficial, artificial. Einstein morreu tentando anular tudo que já tinha feito, tentando criar uma “teoria do tudo” uma teoria que segundo ele nos faria compreender a mente de Deus, nos faria viver melhor, nos aproximaria do criador, no fim ele se foi e deixou sua teoria inacabada. Será que tento o mesmo? Será que tento criar minha “teoria do tudo”? Seria muito mais fácil creio eu, mas fácil que sonhar, mas fácil que esperar, mas fácil que esperar por um super-herói ou por algum gênio com desejos à me conceder, mais fácil que se martirizar, mais fácil que tentar compreender por conta própria esses movimentos da terra, sobre terra, sobre o ar, sobre as ondas, sobre os pensamentos, sobre pessoas, sobre quedas e cortes, sobre meu sangue que nunca para de escorrer e meu cérebro inquieto por respostas.

Minha mente divaga consigo própria como sempre faz, remoendo coisas, pensando em somas de problemas e mais problemas psicossomáticos, psicológicos e psiquiátricos tentando achar sempre algo pra me distrair e fugir do meu foco, mas isso é viver, acho que isso é viver, hoje me senti são e salvo, me senti normal, mesmo remoendo tudo repetidas vezes e tendo medo - sim, tenho medo, o que não é nenhuma novidade. Tenho raiva também, sei que passa, mas quero apertar "stop" nela a hora que eu quiser, na verdade eu poderia clicar nela e apertar "delete", mas ai não seria mais eu, talvez essa megalomania grande que vem com essa vontade de fazer o impossível seja reflexo de contar demais que sou a imagem e semelhança de meu Pai, pelo menos eu posso dizer que um Pai me dá auxilio mesmo que sem palavras, mas espere - meu pai faz o mesmo, mas não o culpo, somos ambos inocentes, marinheiros de primeira viagem - Talvez isso seja bom, deve fazer com que eu cresça mais rápido, mas enquanto não - Me deixe fingir que ainda não cresci por mais alguns minutos - que essa minha necessidade de ser infantil até o fim continue instigando e originando vários e vários textos, músicas e desenhos repetitivos, me sinto um pecador, não quero blasfemar nem nada, peço perdão, perdão, perdão por tudo, eu tenho mais é que ME perdoar mesmo. O silêncio conseguiu escrever esse apanhado de palavras, ela, elas, todos, as mãos que me amassaram/amassam, desamassam, deixam marcas, assuam o nariz e fazem outras coisas mais, que me moldam, que me molham, que me deixam acidentalmente cair no chão, eu choro feito um recém nascido esperando que dêem palmadas no meu bumbum, mas tudo que encontro e vejo olhando pra cima é o chão, é hora de me segurar, com minhas próprias mãos.

Insidiosamente tudo acontece, brisa leve, vento forte, nevoa densa, chuva cortante, no final nada se encaixa, somente eu me encaixo nela e ele em mim, mas mesmo assim as vezes preciso testar minha liberdade, testar como sou sem ela, testar como sou eu.

Por Cadu Tenório e Breno Araújo


Tuesday, July 31, 2007

Doces sonhos.

Possibilidades quebradas, carros, roubados, nada, restos, trabalho, nada, possibilidades roubadas. Berros e mais berros não mudarão nada, não mudaram nunca, mas ao menos saem de você e não ricocheteiam infinitamente por dentro dessa carcaça escassa que chora, que geme, que se mostra indignada, um direito básico, desabafo. Morte, violência, vingança, asfalto manchado de vermelho-sangue, são o que perpetua uma mente cansada e revoltada em prantos. Erguendo-se no nada, se pensa como será o amanhã, já que o presente de um milhão de possibilidades foi roubado de suas delicadas mãos surradas de trabalho que teoricamente não mereciam isso, repreendendo toda esperança, sorrisos e felicidade que se encontravam refletidos em um semblante leve. Culpa-se por pensamentos violentos a respeito de quem tiver realizado o ato, teorias de conspiração mirabolantes são levantadas, o ódio faz seu caminho na mente. "Ora façam-me o favor, pelo menos em minha mente, em meus pensamentos posso me vingar". Extravase, e deixe tudo descer pelos ralos berrantes de sua boca. O choro em prantos pro céu e os berros de raiva desferidos pra Deus pedindo com urgência os porquês de tudo isso acontecer consigo cai sobre a terra cheia de sementes pra que quem sabe germine em algo bom. Um tempo depois deixe que tudo isso seja substituído pela velha clemência "ah, a pessoa que pegou deve precisar muito mais do que eu, eu vou dar a volta por cima", engole a seco, não esquece, mas tenta e lembra. Sinto medo dos meus pensamentos ruins e dos meus momentos de raiva, não quero ter raiva, tento abafar, digo pra mim mesmo que sou humano, me esforço pra acreditar. Sinto medo de mim mesmo, da minha sombra que parece escurecer a cada dia, da minha percepção que parece cada dia mudar, para algo mais cruel, mais vil, com menos compaixão. Doces sonhos são feitos assim, doces sonhos se perdem assim, em meio à sangue, em meio à desgraça trazida lá de trás e que foi lentamente se disseminando por esse futuro, que parece negro, sem esperanças, sem cor. Dor, desespero, desafeto, todos de preto, um velório, muita chuva, lá se foi mais um a se perder enterrado, esquecido, jogado. Muito choro e vela, poucas ações, mais um se perdeu em seus “doces sonhos”. Todos precisam de algo, todos precisam de alguma coisa pra culpar, de alguém pra odiar, de alguém pra se apoiar. Um dia simplesmente você acorda sem chão, sua pele se corroendo, seu corpo remoendo dores, mixando todos seus medos, todas suas raivas, você levanta pega uma arma e resolve checar como deve ser, sai atirando, o sangue escorre pelo chão, respinga na sua camisa branca, pronto, está feito. Então você acorda, acorda de um sonho macabro, onde você e o assassino, você é o bandido, você não trabalha, em seus sonhos vai se moldando toda sua raiva, toda sua repulsa por tudo que lhe rodeia, figurões, ladrões, no final você acaba numa linha tênue entre seus sonhos e sua realidade, onde você controla e guarda em um pequeno recipiente todo seu rancor por tudo isso.

Por Cadu e Breno

Tuesday, May 15, 2007

Engrenagens de uma gigante bola azul.

Uma inusitada passada lhe traz novos rumos, devassos. Tudo que se pensa, se quer, se ouve, não parece tão real quanto deveria ser. Tem-se medo de se expressar de algumas formas, de ser franco consigo, tem-se medo de saber quem é, a dificuldade que se tem é tamanha, medos e mais medos, criados, gerados, tudo parece e soa trágico. A vida anda parada e remota por essas bandas, não tem muito sobre o que pensar a não ser na frustração, e então tende-se a gerar essas sensações chatas e o comodismo de se ter tudo que se tem, dai vem desejos que surgem do não fazer nada, dos quais busca-se uma culpa mais plausível a si, pra continuar o "não fazer nada", síndrome de peter pan, crescer jamais, penso que não conseguiria, tenho medo de realmente não ser capaz, de não querer, mas tenho que viver minha vida, não vou mais ter os pais como deveria ter tido anos atrás e isso não é uma desculpa, pois vivi e aprendi muito bem sem, talvez com algumas dificuldades e pequenos capítulos de dez páginas pulados, mas estou aqui com bons valores arrecadados, mesmo que com um pouco de medo de mim. Vejo-me com medo de tantas possibilidades que o mundo me proporciona, medo das vontades e das sensações de insatisfação e medo que a maioria das pessoas da minha idade, as que têm vidas menos preocupadas, não tem, me pergunto se gostaria de ser como eles, mas não sou, escrevo então por não ser, talvez tudo isso que eu sinta faça de mim alguém que eu goste, alguém que eu tenho que entender ou perceber, descobrir também, que gosto, e gosto muito. Alguém humano, alguém cheio de problemas naturais para a idade, uma dose braba de hormônios, que sente raiva, que sente medo, que ama, que não quer odiar. Uma vida em andamento, em constante movimento, feliz, triste, feliz, triste, feliz, tudo alternando em curtos momentos, você tenta descobrir seu caminho aliado ao que quer, você quer ter direito a duvidar das escolhas, mas não de usar isso como desculpa pra não escolher. Sou alguém que quer tentar, ou ao menos que quer querer tentar, e percebendo que entre um e outro não existe muita diferença. Momentos curtíssimos, segundos ínfimos, que acabam por decidir futuros que poderiam ser mais longos e duradouros, uma batida, um disparo, tudo muito rápido, a queda no chão, os pensamentos fervilhando na cabeça, o que se fez, o que se deixou de fazer. Agora é tarde para aquele, mas não tão tarde para esse. Agora é findado o tempo em que você poderia deixar tudo passar lentamente sem se preocupar, agora começa o tempo de você enfrentar tudo isso, tudo isso que você sempre questionou, todas essas engrenagens que são lubrificadas com sangue humano, sangue animal, suor humano, suor animal, tudo no final parece não ter graça, uma vida que quer ser fantasia, uma fantasia que quer entrar na vida cotidiana, desejos “separados de ambos”, ambições desordenadas e mesmo assim o mundo continua girando.

Por Cadu e Breno

Saturday, April 14, 2007

Perdidos numa eterna transição.

Depois de um tempo sem postar, devido ao bloqueio criativo do Cadu, vai ai mais um texto recentemente feito por nós dois =D.

Simples, singelo, toda vida pode ser resumida em situações comuns, tenha você dinheiro ou não, tenha você a beleza comercial ou não, tenha você sucesso ou não. Perdidos em toda essa confusão eles se encontram, ela ainda jovem e no inicio de um casamento onde é praticamente impossível encontrar seu lugar numa relação a dois que será para sempre. Ele com um longo casamento, meia idade.

Dançaram os dois um tango do pecado, quentes, esqueciam de suas vidas no momento juntamente pra viver o momento, momento esse ao qual desde que se entendem por gente dizem-lhes para aproveitar, dois raios de luz que se cruzam por um milésimo de segundos que se estende por algumas horas em nossa noção primitiva de tempo, ambos com seus compromissos marcados não passíveis a mudança, não-supostamente-passíveis ao "erro", erro esse o qual a vontade não desmerece, a vontade os enche o ouvido com "é isso, tu desejas" e suas mentes desejam de fato imaginando todo o circulo que se sucederia em uma cama circular de motel, gemendo ardentemente, ele com uivos, ela escandalosamente como seu marido provavelmente jamais vira. Os dois chegaram ali depois de uma conversa sedutora, não ligados de nenhuma forma, eram meros estranhos um para outro deixando florescer os estereótipos da carcaça de cada um, um para outro, fazendo com que interpretações pessoais se tornem abrangentes no decorrer da imaginação, estando com quem querem, e sendo quem querem ser. Por um momento se aproveita essa volátil liberdade, da qual na cabeça tenta-se suprimir a culpa, que é trocada por um orgasmo pasmo e delicioso de ambas as partes, a pressa com a qual se movimentavam, de frente pra trás, pra cima e pra baixo, roçando entre si o suor, se tornava urgente, como se eles reclamassem por isso, por essa liberdade, quisessem expelir pra fora o sofrimento, sentir o alivio do momento, o descanso imediato de seus corpos, o alivio, o diferente, a escolha, a suposta liberdade que não se tem, mas que no caso foi gostoso fingir que se tinha.

Ambos passam por situações ambíguas de uma mesma vida, de um mesmo traçado. Pare e defina “experiência”, como adquirimos “experiência de vida”? Será que realmente ganhamos isso com o passar do tempo ou simplesmente nos cansamos de fazer as velhas coisas tudo outra vez? Ambos provavelmente a tinham de ângulos diferentes, ela com suas histórias tristes de uma família partida e deprimida, ele com as histórias de um rigoroso pai, que o espancava sem piedade, e o qual talvez ele agradeça de certa forma, pela força que o auxiliou a ter. Ela comenta que no mundo de hoje a "idiotice" talvez seja necessária, pra acrescentar culpa e lamentação a nós eternos insatisfeitos, e diz ainda que os poucos momentos os quais somos felizes tem mais é que ser aproveitados, coisa com a qual ele concorda, presos e estagnados em uma realidade parecida como foi citado antes no texto, uma realidade que sim, gostariam que fosse pra vida toda, mas em pequenos momentos não.

Pequenos momentos somente pertencentes a eles concordam, não se incomodam de falar sobre tudo, sobre erros, sobre pecado, sobre prazer, são livres, pois não são eles, são quem querem ser e demonstram seus âmagos mais tristes um para outro, demonstram aquilo que acham que não devem mostrar a quem quer que seja feliz ao seu lado, as insatisfações que acabam se acumulando de relacionamentos impostos por machismo, onde contos de fadas são tomados por referencia e pessoas, não desejos sexuais ou insatisfações, eles alegam dessa forma, justificando seus atos, seus momentos de prazer, de liberdade. Libertaram-se agora de seus demônios interiores, puderam ser os maus pensamentos que tanto os incomodam por alguns segundos, puderam pô-los pra fora, puderam sentir-se afagados pelo encontro de um estranho que divide de mesmas angustias.

Repita a musica que você sempre ouviu antes de supostamente crescer e criar responsabilidades por você e por terceiros, capture novamente os sonhos que você guardava na pureza de sua infância, aqueles os quais com o passar do tempo foram mudando e se perdendo conforme você mudava suas prioridades, amadurecia, ou era forçado a esquecer, deixar pra trás. E é assim, por essa força, por esse amadurecimento, que você vai passar a fugir da felicidade, ou simplesmente mata-la, evitar que exista pela incerteza da duração e por conta da queda.

Por Breno Araújo e Cadu Tenório

Thursday, February 08, 2007

Neblina

Em meio à neblina, busco um ponto de luz. Mas só enxergo a fumaça que aspirei após tragar mais um pouco de minha vida desse cigarro. Palavras suas, eu lembrei. Todas as discussões. Dor de cabeça. Lembro de cada segundo, cada minuto, de cada hora de cada dia em que por ti, esperei. Lembro de cada abraço que não ganhei. De cada sorriso que não mostrei e guardei. Agora deposito tudo em cada nota. Nesse meu infinito particular. Pois ainda não respirei. Lembro de ti como uma brisa que tocava meu rosto e se esvaia, lembro-me dos momentos em que sentia tua presença ao meu lado, tua doce voz na minha cabeça. Tudo isso se foi, como aquela doce tarde, em que o sol apagou-se brandamente e levou consigo toda aquela interminável tarde, que talvez me trouxe anos de alegrias.Fostes sem me deixar,saísses abruptamente sem me abraçar. Isso fez falta, isso deixou sangrar, sem curativos ou remendos a ferida continua a jorrar, litros de sangue, lagrimas salgadas, pensamentos confusos, naquela tarde jamais sanada.

Guardei-te junto com os sorrisos. Puxo sempre seu rosto do meu bolso. Retiro o cabelo de seu rosto, pra poder enxergar por completo seus olhos. Lá estão como estrelas que brilham como água cristalina, transparece. Janelas da alma. Aquela expressão ali guardada. Pra todo o sempre. A suposta felicidade. O que ficou aqui guardado por toda eternidade. Eternidade que se tornou passageira, do sentimento que a movia, eternidade que se tornou uma asneira, depois que disseste com se sentia.

A fumaça se dissipa no ar, se funde se espalha. Ela se torna parte dele. Do todo, do vento. O mesmo que faz seu cabelo esvoaçar, que derruba as folhas, que traz ciscos para atrapalhar o seu olhar. Dizem que a alma se funde ao vento. Dizem que o sentir se torna o relento. Dizem que tudo vai ao infinito com o pensamento. Logo após destino algum “pensar”. Mas que tudo sempre vai ser válido, de aprender, eu hei de me lembrar, como fui tolo ao tentar transpassar, o que jamais poderia esquecer, mesmo quando viesse a hesitar, sobre vivê-lo novamente, sobre senti-lo ardentemente, aquele maldito e sublime sentimento transparente.

Escorrendo como um rio ao encontro do seu delta, tentando voar como um pássaro engaiolado, recém libertado, sentindo o ar penetrando em suas asas num vôo rasante na mais nova caçada, em busca do que perdeu em busca do que sou “eu”. Sem complementos agora tenho que juntar todas as peças, pra formar o novo “eu”, tentar buscar o que se perdeu.

Sinto o sereno me abraçar, respiro fundo esse ar. Trago mais um pouco de mim. O caminho ainda é nebuloso, e eu insisto em aspirar, insisto em tragar pra dentro de mim. Insisto em guardar aqui, aquele cheiro que ali permaneceu. Sim, aquele seu, eu me lembro. Me transporto para aquele momento. Agora sei. Tenho que ir e deixar tudo aqui, já finado se tornou lembrança. Boa até. Mesmo após a tormenta. Aqui. Daqui nunca há de sair.


Por Cadu Tenório e Breno Araújo

Friday, January 05, 2007

Quarentão sadicamente feliz.

Internei-me, em uma clínica onde eu mesmo sou o dono, uma internação perpétua, na verdade um xilindró que eu costumo chamar de casa, algo bem pueril, imundo, com roupas espalhadas por todos os lados, imagens de tudo que foi antes, livros amontoados aqui e acolá, livros que li pela metade por não conseguir terminar, ou talvez por não querer mesmo, como estive pensando. Pra que termina-los é bom sempre saber que eles estão ali para serem terminados um dia, por medo de terminá-los e não ter mais o que fazer, ou medo de sempre falhar no que me aprofundo? Talvez um pouco de tudo isso, estou bêbado, tudo que falo, divaga entre meus pensamentos, parece complicar ainda mais o quebra-cabeça de cacos de vidro onde minha imagem refletida foi espatifada junto ao copo que me arremessei por raiva, raiva de estar parado, raiva de estar olhando um reflexo de um ser que desconheço que provavelmente ela desconhecia um ser que não teve coragem alguma pra ser algo, pra se mostrar, um ser que parece muitas vezes não merecer existir, um ser que se tornou impenetrável por palavras que tentam chama-lo a razão.

Coração de pedra, coberto por cobre, gelado pelo tempo frio, mas com sangue quente correndo por ele, talvez seja esse sangue que ainda o deixe vivo. Esse sangue que se perdia quando ele se cortava tentando consertar algo nela ou às vezes até nele mesmo. Ele não podia tirar os olhos dela, não podia virar a esquina, que a falta dela era desconcertantemente voraz consumindo-o e o levando a loucura novamente, afinal ela era o ponto de equilíbrio, para ele, ela era a razão e perfeição que o dia a dia tirou dele, todos esses anos ela estivera ao seu lado.

Antes de todos esses anos a felicidade para ele parecia distante, a perspectiva de ser feliz o assustava, contradizia toda a sua suposta depressão que provavelmente era só uma armadura, ou sua seu raciocínio tentando achar pra tudo alguma explicação plausível, ser feliz se tornou aparentemente insuportável pra ele, aqueles momentos perfeitos ausentes do que foi por tantos anos, egoísta, individualista ao extremo, fizeram transparecer seus defeitos, suas falhas, as mascaras caídas. Junto a ela até esse momento de sua vida, noites e noites desde então, desnudos eles trepavam durante toda a noite. Lembrando-se de tudo isso ele caia aos prantos, bêbado, ouvindo seu vinil da Elis Regina que lembrava tanto o casal, trocou pelo vinil do Alceu que lembrava tanto aquela outra, e foi trocando de vinil em vinil, de mulher em mulher, de punheta em punheta até achar o sono. Mesmo tentando por tantas memórias de outras “mulheres-amantes” que ele teve durante seu frágil casamento, as lembranças sobre ela permaneciam. E os sonhos de repetição, de tanta decepção, repetidas e repetidas vezes, com as mulheres de antes, e com o sofrimento/mulher atual, que na verdade já nem era tão atual assim, e a eminência assustadora, de ali encontrar seu prazer, tendo os motivos pra sofrer, e tentar ser feliz novamente, na verdade ele só queria ser feliz pra voltar então a ser infeliz? Seria essa sua real felicidade? Estariam mesmo os valores invertidos a tal ponto? Isso era apenas sua fantasia por medo do sofrimento maior do tal amor, o qual teve uma vez até então, para nunca mais, agora o lance era fazer sofrer. Criar a cadeia de sofrimento de um em um, de uma em uma, que ele sempre achara absurda que quando mais novo via nos mais velhos. E foi nisso que ele se entrelaçou. A ressaca o torna arrependido, por medo de perder uma vez, ele nunca se entrega, individual, prazer, culpa. E assim segue arrependido, até as próximas doses o entorpecerem em seu prazer/sofrimento/prazer novamente. Até as próximas vitimas ele fazer sofrer, mulheres às vezes com vinte e poucos anos, ele diz que não gosta de tão novas, pois são muito manipuláveis pela já maquiavélica mente que ele possui, ele prefere as de trinta e pouco, pois as considera no ponto da maturidade, é claro que algumas fogem a exceção, quem sabe depois de tanto se fazer amar para pisar depois ele não encontre alguém, e não viva uma felicidade verdadeira por alguns minutos e momentos e uma satisfação que dure ate seus últimos anos.

Por Cadu Tenório e Breno Araújo