Pertinente, quase que vive comigo, aquele zumbido no ouvido, uma e outra vez, se repete, e se repete, como uma gota caindo em um balde vazio, ressonando alto impedindo meu sono. As vezes por isso desejo ser uma barata, mas logo logo mudo de ideia porque parece assustador ter apenas três segundos de memória, renascer e mudar de objetivo a cada três segundos, mas assim eu poderia esquecer de muita coisa, ter diversas e diversas chances de 3 segundos onde eu conseguindo ou não, não iria importar. Mas mudo de ideia porque não existiria nada pra guardar, seria um vacuo, você não existiria nem pra me excitar durante os momentos em que tento me sentir menos só com minhas mãos.
Então, por quê? O que é? Escorrega entre meus dedos quase que sem eu ver. Perco um por do sol, perco uma lua cheia, perco pequenos momentos. O álcool vai se tornando medicamento prescrito para anestesiar o viver, o lutar, o se esforçar... Enfim, a vida no meio desse capitalismo. A vida é bela, um ótimo filme, inspirador, ver que o mundo pode ser moldado na cabeça de alguém menos experiente, ver que aqueles sorrisos são os mais sinceros, ainda está virgem, virgem de tristeza, virgem de morte, virgem de decepção, ainda não teve rachaduras no coração nem quebrou o nariz, o sangue ainda não escorreu, os anticorpos e as defesas ainda não são consistentes, a gripe ainda pode deixá-lo faltar aula. Pena que esses tempos em que eu ganhava dinheiro fácil, passaram. A realidade é quem vigora e pesa agora. Pensa como nunca, como pesos, e dólares, e os mimos que me deram me deixam estagnado, minha consciência funciona, mas não age, meu corpo tem preguiça, preciso agir, preciso agir, o tempo está passando, o mendigo me assusta, tenho pena dele, não sei da sua vida, e tenho medo de perguntar, odeio admitir. Quero crescer ou não? Já nem sei, sei que devo, só não sei querer ainda, mas quero querer, o querer querer é presente em minha vida, ele pode ser simplificado como qualquer outra fração, eu quero, preciso agir, o medo não me deixa nem lhe dar "Oi", o medo das escolhas que não se separam do denominador: renuncia.
Por Breno Araújo e Cadu Tenório